Le chemin des chemises

Le chemin des chemises
Desde cedo, a minha relação com a imagem e a memória revelou-se como uma necessidade visceral de compreender o mundo e, sobretudo, de me compreender a mim mesmo. Cresci num contexto onde as palavras, por vezes, não eram suficientes para explicar as ausências, as perdas e as mudanças abruptas da vida. Foi na fotografia que encontrei a minha voz e a minha forma de reconstruir as peças do que parecia estar fragmentado.
O primeiro contacto com uma câmara não foi apenas um encontro com um objeto técnico, mas sim uma descoberta de uma extensão do meu olhar e da minha alma. Comecei por registar os pequenos detalhes do quotidiano: a luz que atravessa a janela pela manhã, o sorriso tímido de um desconhecido, o desgaste das paredes de um edifício antigo. Cada imagem captada tornava-se uma prova tangível da minha existência e da minha interpretação do mundo.
Com o passar do tempo, fui percebendo que a fotografia ia além do estético ou do documental. Ela permitia-me resgatar histórias, dar visibilidade ao que, muitas vezes, era ignorado ou esquecido. Esse desejo de contar histórias e de dar voz ao invisível foi o que me levou a criar o projeto Le Chemin des Chemises.
Este projeto nasceu de uma reflexão profunda sobre o percurso humano e as marcas que deixamos no caminho. A metáfora das camisas simboliza as nossas camadas, as identidades que vestimos e despimos ao longo da vida. Cada camisa, muitas vezes esquecida ou descartada, carrega consigo histórias de trabalho, de encontros, de suor e de sonhos. Ao fotografá-las em diferentes cenários, não só presto homenagem a essas vidas anónimas, como também questiono a efemeridade das relações humanas e a transitoriedade da nossa passagem pelo mundo.
Le Chemin des Chemises é, acima de tudo, uma caminhada pela memória e pela identidade. É um convite a olharmos com mais atenção para o que deixamos para trás e para o que queremos construir adiante. Assim como a fotografia me deu sentido e propósito, espero que este projeto possa despertar em outros a vontade de resgatar as suas próprias histórias e de valorizar a beleza dos percursos, por mais simples que pareçam ser.