Através da objetiva da minha percepção, vislumbro um cenário onde a luz dança em intricadas nuances. Como o narrador que ressoa nas palavras, a luz não é minha, mas a capturo para perpetuar o instante. Cada clique do obturador é um acorde congelado no tempo, uma canção silenciosa que não compus, mas que se revela diante de mim.
Sou como o alquimista da luz, moldando sombras e claridades na minha câmara escura. No entanto, assim como a alma do narrador exulta e compartilha ensinamentos, eu, por detrás da câmera, também procuro exaltar a essência do momento e transmitir mensagens ocultas aos que observam.
Tal como a alma, minha câmera é o instrumento que capta as notas da realidade. No entanto, como a luz da candeia que não é do narrador, a luz que se projeta sobre o sensor não é a minha luz original, mas sim uma interpretação que dou a ela. E tal como o narrador não é o músico que dedilha o alaúde, eu não sou a própria cena, mas o artista que a compõe no quadro retangular.
Cada imagem é um verso congelado, um fragmento de uma história maior que a minha câmera conta em silêncio. Assim como o narrador declama com paixão os sentimentos internos, eu faço o mesmo com a luz, sombras e cores. E, como o narrador e o interlocutor partilham a mesma natureza, eu e a cena partilhamos o mesmo espaço-tempo, ainda que a minha interpretação possa divergir da realidade crua.
Todavia, como o narrador guarda o segredo do seu íntimo, também mantenho em reserva a visão particular que imbuo nas minhas imagens. O que revelo é apenas uma parte do que está oculto, uma fatia do todo que convida o observador a desvendar o restante.
Assim, o obturador é o meu declamador, a câmera é o meu alaúde e as imagens são os versos e acordes que componho. Através da fotografia, assim como a alma do narrador e do interlocutor, capturo, exalto e compartilho, convidando o espectador a mergulhar nas profundezas das emoções e significados congelados no espaço atemporal das imagens.